12/03/2006

Irony is a dead scene*?

Não, não é. Basta ver uma coisa como o Pimp My Ride para perceber que assim não é. Ou melhor, toda a MTV. A cultura do supérfluo e do medíocre prospera valentemente, assistindo-se mais e mais à vitória do marketing e do estilo sobre a forma e o conteúdo.

São tempos difíceis... acabei de ler a biografia não-autorizada dos Led Zeppelin, Hammer of the Gods. Uma banda que existiu nos tempos em que as editoras apostavam ainda no desenvolvimento dos artistas. Uma banda assinava e lançava um disco sem grandes pressões de vendas. Se o primeiro vendesse 50 mil cópias, não há crise. O segundo poderia vender apenas 100 mil. Havia tempo para se desenvolverem.

Hoje em dia, há o quê? Uma banda assina. Se o primeiro disco não chega à platina, estão fora. E o que é que chega à platina? Merda, pura merda, de venda fácil. Discos de Rap/Hip-Hop (quase sempre), pré-fabricados, vazios de conteúdo, com vídeos do piorio, quase todos formulaicos** como se fossem “pintar-com-os-números”:

- Gajas descascadas a abanarem o que é delas e a roçarem-se nos protagonistas (o chamado hip-hop candy)
- Carros xunados, podendo pertencer ao músico (músico?) em questão ou não
- Mostras de superficialidade, onde o que interessa é ter carros bons, casas boas (ou localizações idílicas), e muito bling-bling (jóias).

Qual é a mensagem que é transmitida? Nenhuma. Superficialidade. Música de comer e deitar fora. Letras de deitar fora ainda mais depressa que a música. Onde é que anda o verdadeiro talento? Submergidos pelo marketing, os verdadeiros talentos não têm como emergir.

A MTV fez um verdadeiro desfavor à cultura ao standardizar a cultura musical. Playlists limitadíssimas. Pouca diversidade. A rádio de hoje em dia está igual: playlists igualmente limitadas, onde só se ouve o que as editoras querem que se oiça. Onde andam os programas de autor? Onde andam os Antónios Sérgios de hoje em dia para passarem a música que querem e gostam, dando-a a conhecer às massas? Onde andam os John Peel? Está tudo apagado. Tudo padronizado. Tudo devidamente higienizado para consumo, embalado com um press kit feito na loja dos 300 e sorrisos comprados no dentista mais próximo e silicone como se estivesse a preço de saldo.

Quando é que isto dá a volta?

* Título retirado do EP dos Dillinger Escape Plan
**exceptuando, em certa medida e felizmente. diga-se, o Kanye West. Começa a dar a volta...

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