31/01/2006

Pimp My Ride: possivelmente o melhor programa chunga de toda a televisão


A equipa da West Coast Customs com uma das suas criações. Estranhamente, este carro até tinha bom gosto e apsecto "normal".

Para quem não conhece o programa Pimp My Ride da MTV, a premissa é muito simples: um jovem, possuidor de um carro a precisar de melhoramentos (vulgo “chasso”), é abordado pelo apresentador, o rapper Xzybit (your boy X-to-tha-Z, holla!). Após uma visita guiada ao chasso, este é levado para uma oficina local, West Coast Customs, onde a dita viatura sofre obras de melhoramento, quase sempre estéticas, mais raramente mecânicas. O carro é depois revelado aos donos, que se passam que nem gente grande, e o levam a casa para mostrar a familiares e/ou amigos.

A glória da coisa é tripartida:

Primeiro, ver o mau estado inicial dos carros, onde há de tudo: bancos que não se seguram, carros que se ligam com chaves de fendas, para-choques que cairam e são guardados no interior, pilhas e pilhas de lixo acumulado, carros sem pintura, descapotáveis sem capota, inclusivamente um carro com uma ratazana viva no interior.

Segundo, ver as ideias que chegam à mesa da West Coast Customs para transformação dos carros: um sistema de limpeza de bolas de bowling, uma lareira (!!!), uma máquina de secar, um estúdio de maquilhagem com água corrente e o incrivelmente banido “escape flamejante”. Montar buzinas de carros de bombeiros também foi um clássico. Já para não falar na profusão de colunas, amplificadores, leitores de DVD e monitores com que costumam adornar os interiores.

Terceiro, ver a reacção dos donos quando: i) o Xzybit lhes bate à porta e ii) lhes é revelado o carro. Coisa mais gloriosa. Passam-se todos que nem bichas malucas.

Se conseguirem apanhar o programa em repetições na MTV, vejam-no. É pura e simplesmente um fartote de rir.

Serviço Público – o tempo de antena chega à blogosfera

Jovem, se és do sexo masculino e completas dezoito anos durante o ano de 2006, dirige-te durante o mês de Janeiro à Área de Recenseamento Militar mais próxima da tua área de residência. O RECENSEAMENTO MILITAR É OBRIGATÓRIO (com eco).

Para as cidadãs, o recenseamento militar é voluntário.


Hoje é o último dia! Jovem, apressa-te!

30/01/2006

Visita a Sesimbra, 28 de Janeiro de 2006 - os meus ouvidos, os meus pobres ouvidos....

Sesimbra vista do alto. Cabrão do frio. É giro ver os companheiros de viagem aos gritos quando de repente entramos em contramão para um descampado para ir poder tirar fotografias como esta.

Desperto no sábado pelas 11h da manhã (cedíssimo, para mim: tardíssimo, para o objectivo em causa) e descolo-me da cama até à banheira, percurso curto mas draconiano por causa do frio. Ainda pensei “eles que se f**am, tá demasiado frio para tomar banho, um pouquinho de catinga nunca fez mal a ninguém”. Contudo, cheio de pena dos meus convivas nessa tarde, lá pulo para dentro da banheira a tempo de ver a genitália a retrair-se com o frio.

Retemperado pelo vigoroso banho e completamente vestido, arranco para a margem sul, onde toda a gente decidiu armar-se ao pingarelho na ponte e se andava a velocidades microscópicas... sai-me cá com cada um na rifa... Voltas e mais voltas, lá desemboco na gloriosa Miratejo, com a sua fauna e flora muito particulares. Não é a capital nacional da basófia, mas já esteve mais longe. Nunca vi tanto Saxo Cup e Punto GT na vida, a juntar aos já habituais Peugeot 206 (uma verdadeira praga esse carro) e outros carros mais idosos. Yo.

Após pegar uma gaja à porta de casa (“corre que o meu pai está ali a meter cartuchos na caçadeira”), vira-se com a bomba “ah e tal, vamos à estação de Corroios comprar bolinhos”. BOLINHOS? Homem que é homem não come coisas acabadas em “inho”, cum c***lho. Essas paneleirices de “bifinhos aux chapignons” e “lombinho de porco” e “saladinha de seja-lá-o-que-for” não entram cá no sistema. Aqui em casa é bife, lombo, e saladas são verdadeiro anátema. Fim. Lá vamos para a bela da estação – e que belo pedaço de arquitectura que era – onde... não há bolinhos. Mas também não havia bolos de homem, como a bola de berlim ou bolo de café ou bolo de rum, só havia daquelas coisas cheias de chantilly. Aviados com bolo de bolacha, lá nos metemos a caminho outra vez.

Descobri que o português é um povo quase suicida no que toca a atravessar as estradas. Já ninguém olha??? “Ah, e tal, aquele carro vem lá ao fundo, deixa-me atravessar aqui a EN10 com a maior pachorra do mundo”. Saco... era espetá-los num pau... com fogo por baixo...

Entretanto, como é óbvio, durante toda a viagem, tinha que ir a aturar a gaja a falar sobre cetáceos carnívoros aparentados com os roazes, e gente marroquina “com abertura fácil” e mais não sei quê. Claro que desligava sempre de vez em quando e ia ouvindo umas musiquinhas na minha cabeça, sempre abafava o ruído de fundo.

O cozinheiro de serviço, em grandes atavios.

Chegados à Cotovia, lá nos instalamos em casa dos nossos anfitriões e do seu gato super-assustadiço que não fez outra coisa que não fosse esconder-se embaixo da cama. Soltando umas larachas e tirando umas fotografias enquanto o macho-alfa preparava o almoço para a matilha, a fome ia crescendo... quase duas horas, sem comer, e eu ainda em jejum... este gajo... tínhamos chegado havia uns 45 minutos e o meu estômago só roncava... e ainda junta uns camarões ao pote... e uns legumes... e bife... e massa... e DESPACHA-TE! Não vês que desfaleço?

Chega a hora da grande mistura, e como é óbvio, a comida era demasiada para o wok... e para o tacho... agitar foi engraçado. Claro que quem se lixou fui eu, porque a primeira malga que saiu tinha 90% de massa e 10% do resto (e cheio de camarão, ainda por cima). Temperado com glutamato de sódio, que sinceramente sabe a nojo, se comido sem mais nada. Estão a ver o cheiro a esgoto? Agora imaginem o sabor a esgoto. Estão perto.

Após comermos (aliás, engolirmos o grogue com cara alegre para não fazer a desfeita ao macho-alfa) o excelente repasto que nos foi servido, segue-se o gelado, ao que a outra responde com exclamações quase-orgásmicas. É só gelado, melher!

Gato fugidio. Não iria perder pela demora...

Come-se o gelado, tenta-se apanhar mais uma vez o cabrão do gato (até tremia o bicho). Goradas as tentativas – não esperaria pela demora – toca a encasacarmo-nos para visitar a vila de Sesimbra, não sem antes ouvir uma multitude de protestos em alto e bom som sobre a “merda do frio!” e “estou toda enchouriçada!”. Ou coisas parecidas.

Após uma curta viagem onde pude demonstrar todo o meu talento a evitar buracos na estrada, estacionamos em Sesimbra no sítio do costume, que fica no topo e longe de toda a acção, mas nem pensar que levo o meu carrinho, a minha coisinha mais preciosa, para o meio daquela vila onde definitivamente ninguém sabe conduzir – depois de ter visto o que vi lá uma vez...

O belo mar de Sesimbra. Afinal ainda há coisas bonitas para se ver neste país.

Descer, andar, gelo total. Ouve-se ao longe uma batucada desconexa. Esta vila é muito à frente: falta mais de um mês para o Carnaval e já andam malucos... não têm mais nada para fazer na vida? Tipo, trabalhar? Estudar? Aproveitar o dia em casa para estar com a família? Mas não, vamos para beira-mar batucar. Nunca hei-de perceber estas coisas...

Chegando à zona dos batuques vê-se que eram quase todas gajas, exceptuando dois gajos que ou eram ultra-tarados sexuais ou meio-frutinhas. Aposto mais na última hipótese. Após mais umas fotos, mais umas voltas, e mais uns protestos em voz alta, começa a sessão orgásmica da outra: os cães. Foi uma excitação tal com os cães que aquilo já parecia chantilly a escorrer-lhe pelas pernas. Entre outros viram-se:

-Um boxer
-Um labrador preto

Rottweiler bébé (ou quase). O que a outra se passou quando o viu.

-Um Rottweiler
-Um labrador chocolate, de pelagem impura ou arraçado, mas era definitivamente um labrador.
-Um terrier
-Um labrador dourado ainda bébé (o que ela se passou, com urros).

Infelizmente para ela, se os cães estavam com dono (homem), esse dono também estava com dono. “É tudo comprometido! Sacanas!”, ouviu-se dizer.

Paragem na loja de farturas, onde toda a gente menos a gaja se abastece de farturas e churros. Mas ainda assim não se coibiu de fazer ouvir-se por essa Sesimbra fora gritando “Churros!” em plena voz... abençoados sejam esses pulmões, menina!

Meninos a beijarem-se no castelo. Ao que isto chegou...

De volta ao carro, com muita escalada pelo caminho porque ficou lá nas alturas, “ah e tal, porque é que não vamos ao castelo?”. Bora. Com duas paragens pelo caminho para tirar fotos, que fizeram com que o macho-alfa gritasse de pavor e “Pedro, o que é que estás a fazer??? Olha para a estrada!!”... Prá próxima não vem ninguém, quatro pessoas no carro e ele engonhava a fazer as subidas!! Bando de cús-gordos, todos!

Yours<>

Castelinho, muito giro, com mais subidas... e o carro a esforçar-se... coitadinho, vou ter que o recompensar e pôr gasolina 98 em vez de 95 para a próxima... mais uma catrefada de fotos, mais protestos em alto e bom som. Sentadinhos na esplanada, toca a bebericar um chocolatinho quente (e bem quente, f**a-se). Cortar na casaca, coiso e tal. O costume. Arrefece. Mais protestos. De volta à Cotovia.

Á saída do castelo.

De volta à casa, a anfitriã lá consegue apanhar o bastardo do gato, que só não se borra todo de medo porque provavelmente já tinha esvaziado o tripedo antes. Mais conversa, toca a cegar toda a gente com o mega-flash que até assobiava. Coisinha mai linda do seu dono... Entretanto, o gato dormia aninhado dentro de uma blusa.

De volta a casa, o macho-alfa solta um bocejo de tal maneira que até se veem as cuecas.

Adeus beijinhos, lá me mentalizo para a viagem de volta para casa tendo que ouvir a outra pelo caminho... tão longa que era, a N-378...

EPÍLOGO: Recomendo uma visita a Sesimbra, principalmente na companhia de bons amigos. De preferência sem ameaça de chuva e sem batucada de carnaval e sem frio. E com mais carros, porque senão eles morrem naquelas subidas cheios de cús-gordos.

29/01/2006

Um caso verdadeiro de vida que imita a arte



ARTE: No filme "Dune", após anos de seca, Paul Artreides faz chover no planeta Arrakis para destruir a spice mélange, fazendo o povo esquecer as suas agruras.


VIDA REAL: Em Lisboa, após uma derrota estrondosa do Benfica, São Pedro faz nevar na cidade de Lisboa para mudar de assunto nas conversas de café, fazendo o povo esquecer a desgraça benfiquista.


Até a Natureza está do lado dos benfiquistas...

Hoje até pode nevar, mas vou falar-vos é de água


Bocage, amigo, o povo está contigo:

"A Água"

Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.

Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da raspa
tira o cheiro a bacalhau rasca
que bebe o homem, que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão.

Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho

Meus senhores aqui está a água
que rega rosas e manjericos
que lava o bidé, que lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber ás fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche.

27/01/2006

Coisas de desempregado: Ajudar em Casamentos e Baptizado(s)

O ano de 2006 irá brindar-me com várias ocasiões de apertar a minha barriga numas calças com vinco, de usar cinto e gravata e sapatos apertados que magoam quando se anda e ainda camisas que se amarrotam só de olhar para elas: sim, estou a falar de casamentos e baptizado(s).

O ano começa bem a 25 de Fevereiro com o baptizado da minha priminha Inês, que vai fazer um aninho. Quem é que vai fotografar o evento? Ora bem, yours trully! Os meus primos (pais dela) acham que eu fotografo melhor que os fotógrafos contratados. A-ha, tolos! Vamos lá ver se não dou barraca da grossa.

Segundo evento: Casamento da Laura, algures em Vila Franca de Xira. Quem é que vai fotografar? Yours trully again! Mas aí já vou com experiência do baptizado da minha prima. Será a segunda ocasião para espremer as banhas no fatito.

Terceiro evento: O casamento do meu maninho em 22 de Julho, algures no concelho de Gondomar... este já não fotografo eu. Vai dar ele 370 contos (!!!) para ter o prazer de ver a cerimónia imortalizada em papel fotográfico.

Quarto e último evento (a não ser que alguém se lembre mais de casar ou baptizar as crianças ainda este ano): Casamento da Catarina e do Paulo, a 9 de Dezembro. Esperemos que não chova ou faça muito frio (embora as probabilidades, já se sabe, não jogam nada a favor). Algures na margem sul, yo.

Curiosamente (ou não), estou semi-contratado como assessor de imagem para dois dos casamentos. Isto de estar desocupado tem as suas benesses, afinal...

Ódios de estimação, I - The Butterfly Effect


Usando o Google Image Search para procurar imagens dessa aberração de filme, deparei-me logo na primeira página com esta foto das gémeas Olsen. Não tem nada a ver com o filme, mas decidi não magoar os olhos dos leitores com aberrações. As gémeas Olsen sempre são bem melhores que o Ashton Kutcher...

Primeiro Ódio de Estimação: O Filme “The Butterfly Effect”

Porque o odeio tanto: é um insulto à inteligência do espectador.

Prova 1: Um gajo que volta atrás no tempo e pode mudar acontecimentos da sua vida PORQUE LÊ O QUE ESCREVEU NOS CADERNOS. Alô?? Fui o único aqui a notar incongruências? Ele volta atrás as vezes que quer, muda tudo e mais alguma coisa, mas a única constante em todas as voltas são os cadernos e os acontecimentos nele descritos? Oh hum.

Prova 2: Chamar ao personagem principal Evan tREBORN. Ninguém estava a ver a ligação nome/acontecimentos, pois não? Ridículo.

Prova 3: Adoro ver o Ashton Kutcher no That 70’s Show mas neste filme foi um total falhanço. Não tem profundidade para actuar nem sequer neste filme braindead, fazendo basicamente a mesma cara quer estivesse contente quer estivesse triste, a sofrer, a f***r, etc.

Prova 4: Pega num caminho já muito calcorreado que é o das viagens no tempo (mais ou menos) e não faz nada de jeito. Há por aí bem melhor que isto (um exemplo: o muito mais sublime e inteligente Donnie Darko).

The Butterfly Effect: Two Thumbs Down. A evitar como a peste.

CELESTIA

Screenshot do Celestia

Existe um programa gratuito que me tem feito as delícias nos últimos meses: chama-se Celestia, e a melhor maneira de o descrever é como se fosse um Google Earth, mas para o sistema solar. Se gostam de olhar para as estrelas e saber mais um pouco sobre os planetas deste sistema onde calhou vivermos, e dos seus satélites, não vão mais longe.

Aconselho uma visita demorada às luas de Jupiter de Saturno: Europa, Ganimedes, Io, Titã, Encelades, Japeto... (Iapetus em Inglês). Cada uma mais esquisita que a outra. O programa fornece links para consulta de mais informação sobre os planetas e satélites.

NOTA: Acho engraçado que o programa ainda consiga fazer o tracking da MIR, tendo em conta que esta se despenhou há já uns anitos valentes... um sentido de humor algo macabro, mas podem sempre acompanhar a posição do Hubble e da ISS (International Space Station).

O programa podem tirar daqui: http://www.shatters.net/celestia/

26/01/2006

Headphones novos


Headphones novos. Dão um grande som, mas são muito grandes e pesados. E ligar o jack à aparelhagem (esse monstro de aço inoxidável onde está o meu pé) é uma coisa quase impossível.


(foto de E. Miguel Ribeiro)

25/01/2006

Twin Peaks

Laura Palmer. Não se vê muito dela durante a série, só meio-minuto em flashback. Mas a história gira toda em torno dela.

Por fim, last but not least nos posts dedicados a Lynch, a série que definiu a passagem da década de 80 para a década de 90:

Twin Peaks.

Poof, o que dizer sobre esta série? Vamos começar pelo início: Aquele genérico inesquecível: a beleza dos “quadros com movimento” que a camera capta: o moínho de madeira a funcionar (curiosamente fechou um mês depois de serem filmadas as cenas de stock – foi por uma unha negra), as paisagens bucólicas e serenas do interior do estado americano de Washington, e aquela música impossível de esquecer, que até ao dia de hoje me causa calafrios*

Sherilynn Fenn como Audrey Horne. Saiu de Twin Peaks para fazer aquela gigantesca caca que era o Boxing Helena.

A premissa da série era simples: uma adolescente local, Laura Palmer, é encontrada morta na margem do rio local, embrulhada em plástico. Um agente do FBI, Dale Cooper (mais uma vez o ubíquo MacLachlan) é destacado para acompanhar o caso. À medida que as pistas do assassinato vão sendo desvendadas é-nos oferecido um olhar mais profundo sobre a cidade de Twin Peaks, com todas as suas peculiaridades e personagens estranhos, incluindo várias viagens ao sobrenatural (um tal de Chris Carter, criador dos X-Files, admitiu roubar muita inspiração a Twin Peaks):

- The Log Lady (Catherine Coulson), que transporta sempre um ramo que se julga conter a alma do seu marido morto

- Nadine Hurley (Wendy Robie), que perdeu um olho. Maníaca por cortinados e com força sobre-humana

- Dr. Jacoby (Russel Tamblyn), o psiquiatra local que parece que mora no hospício mas é daqueles que dormem nos quartos almofadados.

- Leland Palmer, o pai de Laura, que passa de uma criatura que chorava a todos os minutos na primeira série (e dançava a toda a hora também, Fred Astaire rói-te de inveja). Na segunda série sofre uma transformação de dr. Jekyll para Mr. Jack-ass.

E a miríade de personagens sobrenaturais do Black Lodge:

- The Man from Another Place (Michael Anderson), um anão que anda e fala ao contrário (mas estranhamente perceptível)

- BOB, o espirito assassino. Um caçador que capta medo e horror para se alimentar a si e aos restantes habitantes. Usava o corpo de Leland para cometer os actos. Tinha o estranho hábito de gritar:

Through the darkness of future’s past

The magician longs to see

One chants out between two worlds

Fire, walk with me

- Mike, o homem com um só braço. Esquizofrénico na vida real, tomava uma personalidade diferente no lodge.

As influências de Twin Peaks são visíveis em séries de hoje em dia, como Desperate Housewifes e Lost (a história contínua com um mistério por resolver e ao qual vão sendo acrescentados detalhes e desenvolvimentos até ao clímax).

Laura Palmer embrulhada em plástico. É tramado...

Nem tudo é perfeito, contudo. Embora a primeira série fosse fenomenal, a segunda série sofreu com o desligar progressivo de Lynch, demasiado ocupado com as filmagens de Wild at Heart, e com alguma falta de controlo de qualidade nos últimos episódios. Pelamordedeus!!! A Jocelyn cai morta sem razão nenhuma e transforma-se numa maçaneta da gaveta???? LYNCH, onde estavas tu? Tem que se admitir que a qualidade da história decaiu depois da revelação do assassino de Laura Palmer (para quem não percebeu pelas linhas acima, foi o pai dela), e tudo piorou no fim da segunda série quando a estação responsável, ABC, pediu para a série acabar num cliffhanger (final aberto) com vista à renovação para uma eventual terceira série. Estranhamente, a estação retraiu-se, a terceira série nunca aconteceu e Twin Peaks nunca teve o coda que merecia. Final inglório para uma série que tanto mexeu com o público na altura.

Para acabar, o genérico final: um still shot de Laura Palmer, enquanto passava uma melodia desolada de piano sob uma base de cordas sintéticas. Mais um tema excelente de Badalamenti (tal como o genérico de abertura).

E pronto, agora por uns tempos não há mais Lynch. Talvez quando sair o seu novo filme, INLAND EMPIRE (sim, com letras maiúsculas). Até lá, veremos o que sai.

*tive que comprar o CD com a banda sonora. Teve que ser.

24/01/2006

Blue Velvet

Frank Booth (Dennis Hopper) inspira mais um pouco de nitrato de amilo. Não tarda nada estaria a ouvir "In Dreams" de Roy Orbinson e a violentar Jeffrey (MacLachlan)

Isabella Rossellini como Dorothy Vallens. Depois de acabarem as filmagens enrolou-se com Lynch, tendo a relação durado até um pouco depois do lançamento de Wild at Heart em 1990.

Corria o ano de 1986 e Lynch lança o seu filme mais perturbante até então: Blue Velvet. Uma viagem ao coração da América Profunda, onde tudo parece bem e todos andam felizes à primeira vista, revelando todo o horror e escuridão quando se olha mais atentamente (uma das cenas iniciais é um bom exemplo disso: o zoom sobre o relvado perfeito e verdejante culmina com os insectos a degladiarem-se).

Interpretações magistrais de Isabella Rossellini (que nunca tinha actuado nem cantado antes) e de Dennis Hopper. Dennis Hopper é Frank Booth, um psicopata sádico que força Dorothy numa relação sado-maso (em versão light, miudagem, não se assustem, não há cabedal e correntes) enquanto mantém o filho e o marido destas sob rapto. Dorothy não age porque entretanto aprendeu a gostar deste masoquismo (Sindrome de Estocolmo? Possível).

A situação inverte-se quando Jeffrey decide meter-se a fazer investigação própria e as coisas se baralham, acabando numa espiral descendente de violência culminando com a destruição de Booth. Aí, tão depressa como tinha começado, tudo volta a ser claro, luminoso e idílico, tudo volta a estar bem com o mundo.

Uma verdadeira obra-prima, que toda a gente deveria ver pelo menos uma vez antes de morrer. Nunca o surrealismo foi tão acessível. A partir deste filme Lynch ganhou uma base de fãs fixa, atraindo-os com as suas imagens e histórias incomuns.

De notar ainda que aqui se iniciou a relação de trabalho com o músico Angelo Badalamenti, relação que se mantém até hoje. Aliás, Lynch é conhecido por ser "fiel" às pessoas com quem trabalha, repetindo-os de filme para filme, quer seja equipa técnica quer sejam os actores: Laura Dern em Blue Velvet, Wild at Heart e no novo INLAND EMPIRE, Kyle MacLachlan em Dune, Blue Velvet, Twin Peaks e Fire Walk With Me, Sheryl Lee em Twin Peaks, Wild at Heart e Fire Walk With Me, Grace Zabriskie (idem), Sherylinn Fenn (idem, excepto FWWM), Harry Dean Stanton (Wild at Heart, The Straight Story, INLAND EMPIRE) e Jack Nance (tudo até morrer, portanto, só ficou de fora da lista o Mulholland Drive).

Resumindo: ver Blue Velvet. Obrigatório.

Dune

Kyle MacLachlan mete a mão na caixa da feiticeira. Fear is the mindkiller, dizia ele. Box dava para fazer muitos trocadilhos em inglês, mas não percamos tempo com isso.

A seguir a The Elephant Man David Lynch mete-se numa aventura bizarra com o experiente produtor Dino De Laurentiis. O resultado foi o relativo flop de bilheteira Dune.

Revelou-se impossível, na prática, adaptar para cinema o épico de Frank Herbert. O filme lá conseguiu ser feito à terceira tentativa, depois de duas tentativas europeias abortadas e demasiado dispendiosas (numa delas o Imperador Harkonnen seria interpretado por Salvador Dali). A tentativa americana tem como virtude ter chegado às salas de cinema, mas pouco mais que isso. Visualmente apelativo (como é apanágio de Lynch), o filme pecava pelo excesso de voice-overs, pouco realismo tendo em conta os livros e um passo ora pedestre ora demasiado acelerado.

David Lynch entregou quase três anos de sua vida a este projecto para ver o seu trabalho destruido na sala de montagens: embora no papel ele tivesse direito ao "final cut", a editora retalhou o filme e montou-o como quis, desvirtuando o esforço de Lynch. Obviamente desagradado, retirou o seu nome da ficha técnica, substituindo-o por Judas Booth.

Quanto à história em si, Paul Artreides (MacLachlan) cresce, vive no deserto com o Spice People, doma as minhocas, fica com olhos azuis, farta-se de gritar para uma máquina e faz chover pela primeira vez no planeta. The end.

Definitivamente, a hora mais negra de Lynch em Hollywood.

No entanto, nem só coisas más sairam deste filme, pois Lynch assinou com De Laurentiis um acordo em que só faria Dune se lhe fosse permitido fazer um filme à sua maneira. De Laurentiis manteve a sua palavra e assim surgiu... (ver próximo post)

23/01/2006

Coisas Erradas em 2005: Pt. II

Sócrates, numa tentativa inédita de combater a candidatura de direita (só direita? o homem é mais centrista e esquerdista do que aquilo que o pintam - deve ter sido das candidaturas mais abrangentes), manda a opção óbvia que era Alegre às malvas e retira uma múmia do sarcófago onde se encontrava a repousar, mandado-a para os leões armada de pouco mais do que acidez verbal. Os resultados viram-se. Que a sua alma e o seu corpo enfaixados descansem finalmente.

Coisas Erradas em 2005: Pt. I


Uma banda ("banda"?) de metrossexuais a fingirem que são ainda adolescentes entra para o primeiro lugar dos tops nacionais de vendas de albúns. António Variações dá voltas no túmulo. Serginho e Claúdio Ramos, estimulados todos os dias com imagens da banda, desenvolvem priapismo* e são submetidos a operações cirúrgicas para debelar esse efeito.


*Erecção prolongada e dolorosa.

McLaren junta-se à celebração de Cavaco


Uma das marcas mais famosas de Formula 1 de todos os tempos e que nos deu o prazer de ver Ayrton Senna demolir a concorrência durante muitos e bons anos juntou-se à onda de fundo que varreu Portugal e elegeu Cavaco como presidente ao mudar a sua decoração desde o tradicional preto e prata que vigorava desde 1997 para um apelativo cor-de-laranja...

Quando contactado por este blog, Ron Dennis, General Manager da famosa escuderia, escusou-se a responder.

ULTIMA HORA

José António Saraiva, o arquitecto ex-director do Expresso, contente por em mais de vinte anos de comentário político nunca se ter enganado (lá previu que o Cavaco ganhava à primeira volta...), abre consultório na baixa lisboeta e anuncia que vai competir na primeira página dos classificados com os grandes profs. Caramo, Jakité, Fofana e Mamadú... e já contratou dois senhores portentosos para estarem a distribuir papelinhos à porta do metro onde se pode ler:

ASTRÓLOGO MEDIUM EUROPEU

PROF. SARAIVA

Dotado de enormes poderes, vidente e grande conselheiro, ajuda a resolver todos os seus problemas, mesmo nos casos mais difíceis ou graves em pouco tempo. Problemas políticos, partidários, sociais ou mesmo impotência sexual. Ajuda a ter boa sorte no trabalho. Faz aproximação e afastamento de candidatos à ribalta política. Consulta pessoalmente e por correspondência, todos os dias das 08h às 22h. Resultado positivo na mesma semana.
PAGAMENTO APÓS O RESULTADO.


Com este anúncio, tremam... o homem tem aquele olhar que até deita elefantes abaixo...

E você, como desperdiçou o seu voto ontem?


Sócrates enraivecido promete baixar ainda mais os salários e aumentar os impostos. O povo português junta-se numa vaquinha e oferece-lhe uma televisão para aprender a não discursar enquanto os outros ainda estão no ar. E um sistema de roldanas para aprender a rebaixar-se perante as evidências do resultado eleitoral: a sua estratégia foi completamente para o galheiro.

Louçã, irado, promete nunca mais se calar e assegura que vai tentar fazer com que o aborto, mais que um direito, passe a ser uma obrigação.

Jerónimo furioso desata à estalada contra as políticas de direita. A sua companheira de partido não se deixa ficar e retribui na mesma moeda.

Alegre, ainda estupefacto de ter dado tal banhada a Soares, fica especado a olhar para o horizonte e cria mais dois sonetos na hora. Escreve na agenda "Escrever épico". Vai para casa e passeia o cão.

Marocas fartou-se de apanhar na cabeça durante toda a pré-campanha e campanha, culminando com um estrondoso arraial de pancada na noite de eleições onde até do poeta levou uns valentes biqueiros. Negro de pancada, vai para casa onde calça os chinelos e larga um peido trovejante que faz com que a familia abandone a sala.

Exultante, o Sr. Aníbal C. Silva sente-se feliz: conseguiu por métodos limpos enrabar todos os outros candidatos, e sem ficar com m***a agarrada à pila (ou pelo menos não muita). Na suruba toda a gente tentou passar-lhe a mão pela bunda mas ninguém o conseguiu comer. Portugal, embora seja amante da liberdade, sempre teve desejo de um governante frio, com coração de pedra e mão de ferro para endireitar a coisa.

21/01/2006

The Elephant Man

John Hurt como Elephant Man. Excelente actuação premiada com uma nomeação para os Óscares.

Filme de 1980, que toda a gente:

a) Já viu
b) Já ouviu falar

sobre um caso verdadeiro da Inglaterra Victoriana. Um homem terrivelmente deformado por uma doença congénita é escravizado por um saltimbanco, onde é obrigado a mostrar as suas deformações todas as noites ao público, até que um médico, Frederick Treves (excelente interpretação de Anthony Hopkins), o salva e lhe restitui uma dignidade há muito perdida.

Valeu a David Lynch uma nomeação para Oscar de melhor realizador, o que foi um verdadeiro feito para o segundo filme de um realizador alternativo que antes só tinha para mostrar uma longa-metragem intragável para Hollywood e uma colecção de curta-metragens super-obscuras (e extremamente difíceis de achar). O filme foi nomeado para 8 Oscares e ganhou... nenhum. Começava aqui a guerra contra Hollywood.

Produzido por Mel Brooks, embora o seu nome não apareça em lado nenhum, para não dar nenhuma conotação negativa ao filme - tinham medo que as pessoas o fossem ver pensando que se tratava de uma comédia.

Um filme bastante acessível, filmado em preto-e-branco. Aliás, os três filmes que Lynch fez baseados em histórias que não foi ele a escrever (Elephant Man, Dune, Wild at Heart) são no geral bastante mais acessíveis ao público.

Coming up next: o gigantesco flop que foi "Dune"

Eraserhead

O ano é 1977.

O primeiro filme comercial lançado por David Lynch tinha como nome Eraserhead. História: pouca ou nenhuma. Uma sucessão de imagens bizarras e surrealistas, acompanhadas muitas vezes de ruídos graves e maquinais, quase industriais.
A pouca narrativa que existe resume-se bem depressa: Henry tem um filho com a sua namorada, fortemente deformado, e que cria tensões grandes na sua relação. Um homem num planeta (Jack Fisk, futuro ex-cunhado de Lynch) mexe numas alavancas. Uma mulher com bochechas de esquilo canta num radiador que "In Heaven, everything is fine". O cérebro de Henry é transformado em borrachas cor-de-rosa para irem para as pontas dos lápis. Tenta meter os cornos à namorada com a vizinha do lado. O planeta explode e o puto vai com os porcos. Fim.










Bebé (?) deformado. Embora Lynch não revele, foi feito a partir de um feto de vaca.

Não é um filme fácil. A falta de estrutura narrativa não ajuda. Diálogos quase inexistentes, menos ainda. É um filme para sentir. Para ver e observar. Vezes e vezes sem conta. Este é, por excelência, o filme em que Lynch melhor revela a sua faceta de pintor/fotógrafo: cada cena poderia muito bem ser um quadro, mas com ligeiro movimento. Com subtilezas próprias.

NOTA: O filme esteve em produção durante 5 anos, e foi sendo filmado à medida que iam arranjando dinheiro. Nunca mais teve estes problemas, diga-se...

20/01/2006

Não podia deixar passar, como é claro...

...o aniversário, hoje, de David Lynch. O grande mestre do cinema surreal norte-americano completa hoje sessenta aninhos de pura esquisitice.

O que mais salta à vista é o seu desejo de nunca baixar os braços. Quando se viu praticamente proscrito de Hollywood após o filme de 1990 (Wild at Heart), continuou a fazer o que bem queria.


Laura Dern e Nicolas Cage em Wild at Heart

Toda a gente queria a continuação de Twin Peaks, ele dá a volta e faz uma prequela sobre os últimos sete dias de Laura Palmer - estou a falar de Fire Walk With Me, o filme de 1992 - um filme verdadeiramente indigesto e difícil de entender.


Sheryl Lee, como Laura Palmer

Verdadeiramente proscrito após FWWM, que já teve que ser financiado por um consórcio francês - sim, porque em Hollywood já ninguém queria tocar em david Lynch nem sequer com um pau, vem a lenta travessia do deserto, culminada com um fraco (para os seus standards) Lost Highway. A banda sonora, a cargo do seu colaborador de sempre Angelo Badalamenti e de Trent Reznor dos NIN, por sua vez, mostrou um realizador destemido e acabou, à sua maneira, por atirar para a ribalta uns até então obscuros Rammstein.

Robert Blake como Mistery Man em Lost Highway, antes de decidir dar um tiro na mulher e ser absolvido em tribunal de uma forma que deixou O.J. Simpson carregado de inveja: a sua defesa foi bem mais barata.

Rapidamente se levantou e lança em 1999 o verdadeiramente sublime The Straight Story, baseado numa história verídica. Foi a última actuação de Richard Farnsworth antes da sua morte, e que actuação! A sua derrota nos Óscares deveu-se simplesmente ao facto de ser um filme feito fora do circuito dos grandes estúdios - aliás, o financiamento dos filmes de Lynch, desde o FWWM, é francês; alguma coisa havia de sair de bom dessa nação. Lynch, com este filme, demonstra inequivocamente o seu amor pela américa rural, e a sua crença na bondade das pessoas. Pelamordedeus, não podem morrer sem ver este filme! Absolutamente proíbido perder. Nem que seja pelos três minutos do Richard farnsworth no bar.

O brilhante Richard Farnsworth montado no seu corta-relvas. Já não se fazem actores assim.

O último filme a ver a luz do dia foi já no longíquo ano de 2001, e foi mais uma verdadeira obra-prima: Mulholland Drive.

Naomi Watts e Laura Elena Herring em Mulholland Drive. LEH é provavelmente o maior tesão cinematográfico desde os tempos de Sophia Loren ou Brigitte Bardot.

O brilhantismo das performances neste filme - principalmente de Naomi Watts - foi mais uma vez ignorado por Hollywood. É fodido... provavelmente o melhor filme de Lynch pós-1990.


Como não vos quero maçar muito, fica para a próxima vez a carreira de Lynch pré-1990. Provavelmente com todo um post dedicado ao Twin Peaks.

P.S.-Este blog não vai ser só sobre David Lynch, claro...

Isto hoje começa bem

20 de Janeiro de 2006

19h38

Aqui começa.

EDIT: Tinha escrito 2005 em vez de 2006... não largues as drogas que não é preciso, não...