Uma coisa me deixa, agora, completamente confuso: a não-aceitação da validade de um ponto de vista diferente? Fui confuso? Passarei a explicar melhor nos próximos parágrafos.
Vejo hoje em dia aquilo que sempre existiu, mas que antes me passava ligeiramente ou totalmente ao lado: tive uma epifania recentemente, como muitas vezes me acontece. Vou dormir, e no dia seguinte acordo com teorias espectaculares ou com os “olhos mais abertos”. Quando ainda era estudante era o pão nosso de cada dia: ia dormir com um nó na cabeça, não percebendo a matéria ou os passos de uma certa coisa, e quando acordava fazia tudo sentido e (normalmente) novas implicações e relações entre as coisas tinham sido encontradas. Por isso o meu conselho é sempre: durmam! Não vale a pena fazer directas. Acordam logo com as ideias mais bem organizadas. Works for me!
Mas voltando ao ponto em questão: agora vejo (ou melhor, agora reparo) a intransigência das pessoas em aceitar pontos de vista que sejam diferentes dos seus. Intransigência essa que chega a roçar a má-educação. As pessoas normalmente não aceitam como válidos ou como igualmente válidos os argumentos dos outros. Uns podem chamar-lhe “teimosia”. Outros ainda “autismo intelectual”. Se a discussão for entre dois intervenientes de uma relação emocional (pais-filhos, namorados, etc.), a coisa então dá mesmo para o torto.
O que transcende aqui não é o facto de uma das partes ter razão e a outra não ter. Pode ter uma, pode ter outra, podem ter as duas, muitas vezes não há certo nem errado, é tudo relativo. O que custa a ver, e é revelatório de teimosia e egoísmo, é ver uma das partes (ou ambas) menosprezarem os argumentos/sentimentos da outra parte, como se estes não fossem válidos ou não estivessem à altura. O que é errado. Estão todos à mesma altura. Os sentimentos/argumentos de uma pessoa não são mais ou menos válidos que o de outra pessoa. Podem não chegar a entender-se nunca, podem ser completamente antagónicos, mas o complexo de superioridade/inferioridade é que vai dar cabo das coisas muitas vezes.
Vou dar exemplos: política. Situação de crise.
A esquerda defende sempre mais condições para os trabalhadores, melhores salários.
Está errada? Não.
A direita defende contenção salarial para não agravar a crise e impedir que as empresas trabalhem no vermelho e agravem os seus défices.
Está errada? Também não.
O que mata automaticamente toda e qualquer discussão nestes termos? A arrogância, o complexo de superioridade, o “não-querer-ouvir” o que a outra parte diz. E a luta continua, e vai continuar a ser assim por muitos e looooooongos anos.
Outro exemplo: uma relação interpessoal, suponhamos entre dois namorados. Ela quer A. Ele quer B. Eles têm discussões acaloradas pelas diferenças de ponto de vista. Ela vai ter com as amigas “ele é um estúpido, um cretino, eu quero tanto fazer A e ele não!”. Ele, por seu lado vai tomar uma cerveja com os amigos onde desabafa “ela está a dar-me cabo da paciência, não quero fazer A, quero fazer B, e ela não desiste de me chatear”.
Quem está mal?
Ninguém está mal, cada um é livre de achar e sentir e agir como acha correcto.
Problema: não saber ouvir a outra parte e aceitar os argumentos como válidos (com ou sem razão).
Solução: não há uma solução-tipo. Ou A e B são muito diferentes e as pessoas separam-se, uma vez que a relação está condenada por diferença de ideais. Ou uma das partes dobra-se para acomodar (pode ser mau, porque pode gerar ressentimentos).
Mas o simples facto de se entrar com um “não me ouves, não queres saber do que sinto, não queres fazer A (ou B, se for o homem)” já está a condenar a coisa ao insucesso. Chamar a atenção aos próprios sentimentos/argumentos por cima dos da outra pessoa (que são igualmente válidos, exxceptuando coisas obviamente estapafúrdias)... mau sinal. Acaba como as discussões políticas: ninguém se entende. Nada se avançou. E criaram-se ressentimentos. Boa.
Moral (moral? Right...) da história: ninguém é dono da verdade ou da moral absoluta. Compreender isto só por si já é um grande, grande passo. È óbvio que numa situação mais tensa ou discussão mais acalorada estas palavras são as primeiras a ir pelo cano abaixo. Mas cair no erro de desrespeitar os sentimentos dos outros como se fossem errados ou inferiores... é caminho certo para a ruína. Até se pode não avançar muito, ou mesmo nada. Mas respeito é necessário. Paridade de ideias, muito necessário. Ficar na mó de cima é o ideal, mas sem menosprezar os outros, principalmente se se tratar de uma relação pessoal, porque aí não há superiores e inferiores, há iguais. I-g-u-a-i-s. Coisa que muita gente se esquece. Se não estiverem os dois a remar para o mesmo lado e com a mesma força, não se anda em frente, anda-se às voltas.
O que eu quero dizer, apenas numa frase: há mais peixes na terra e cada história tem pelo menos dois lados, dos quais podem estar todos correctos ou nenhum. Intransigência, é cegueira. E cegueira é uma coisa má. Mas isso não precisava de dizer.
(texto confuso? Pois, deve estar, nunca fui bom escritor, por isso é que tirei um curso de engenharia, tá? Não fui talhado para o discurso fácil)
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