12/03/2006

Ódios de Estimação, Pt. 3

Compreendo perfeitamente que o que vou escrever a seguir pode ser considerado como blasfemo em certos círculos e pode perfeitamente originar uma fatwah (guerra santa, gente, o Rushdie tem uma pendente sobre a cabeça dele também), mas cá vai:

Não gostei da trilogia do “Senhor dos Anéis”. E passo a exlicar porquê:

- Ponto número 1, e principal: mau realizador, verdadeiramente mau. Peter Jackson era conhecido por realizar filmes de série B de inegável valor cómico (intencional ou não). Não tinha capacidade para realizar um blockbuster deste tamanho. Em certa forma aplaudo os produtores por não terem jogado pelo seguro e tentar contratar um nome sonante da indústria. Mas Jackson a meu ver não deu conta do recado porque:

- Ponto número 2, a direcção de actores foi completamente abismal. Os personangens são todos unidimensionais, revelando pouca variedade. E muitos dos personagens são intermutáveis entre si, notando-se poucas diferenças entre os caracteres ficcionais. Aragorn tem sempre cara de prisão-de-ventre (allo! Variedade?!!!?). Legolas sempre a olhar para o horizonte e a proferir palavras de quilo e meio, mesmo que não esteja lá ninguém para as ouvir. O anão, bruto como as casas todos os dias. Frodo sempre sempre com aquela cara de quem lhe dizem que vão enfiar um dildo pelo rabo acima sem vaselina. E Sam com vontade de enfiar esse dito dildo.

- Ponto número 3, o uso super-exagerado de efeitos especiais, muitas vezes sem necessidade. Muitos filmes de fantasia não precisam de um uso tão intensivo de efeitos para ilustrar uma história. Não era necessário ter um Sméagol todo criado em CGI. Isso é show-off. Masturbação. E masturbação é uma coisa para se fazer em privado, por isso para a próxima é melhor usar um actor de carne e osso (até porque as acções do personagem não justificavam o uso de CGI: não tinha força sobre-humana, não dava grandes saltos, nada!). O mesmo se pode dizer dos Nazgul.

- Ponto número 4, embora estivesse a seguir (algo livremente, diga-se) os livros, há vários pontos de incongruência que originam questões: no primeiro livro Sam tem um pónei que os ajuda etc e tal. No filme não há referência nenhuma a esse pónei, até Sam se despedir tristemente dele nas minas de Mória. Um belo non sequitur... Outros existem, como os especialistas em LOTR vos poderão mencionar. Um que eu adoro e não está explicado é como Sauron passou de vilão corpulento e viril a vagina luminosa e cor-de-laranja. Ou como é que o anel tem tanto poder. Subentende-se apenas que sim? Uma explicação fazia melhor figura.

- Ponto número 5, o passo moroso de todos os filmes, embora atenuado no Regresso do Rei. Todos os filmes desenvolvem a acção muito devagar, e isto quando a desenvolvem. O segundo filme, neste aspecto, é péssimo, sendo quase todo passado a resolver uma narrativa-satélite de interesse duvidoso para a acção principal. Mas aí o problema já é do livro. A decisão de mudar a morte de Boromir do segundo livro para o fim do primeiro filme retirou imenso protagonismo ao segundo filme. Mas aí o primeiro filme não teria final, e seria uma experiência frustrante. Assim ficou o segundo filme pendurado em termos narrativos. Hmmmm...

- Ponto número 6, o recurso a Dei Ex Machina (Deus Ex Machina, Dei no plural, refere-se a um artifício literário já usado nas tragédias gregas, em que as tramas eram resolvidas por uma entidade que nunca havia sido referida antes e que aparece do nada para mudar o rumo da trama). Os Dei Ex Machina no LOTR aparecem em duas situações, pelo menos: os Ents no segundo filme, ainda bem que estavam lá as árvores para salvar os hobbits. E os guerreiros mortos no terceiro filme (deram imenso jeito, hã, já estavam mortos e tudo, não tinham que se preocupar com nada). Os guerreiros aparecem e tornam uma situação bastante negra para os bons numa situação bastante negra para os maus. No mínimo conveniente. Bah. Fraquinho fraquinho.

Moral da história: três livros de dificílima adaptação para o grande ecrã. Problemas de argumento provocam incongruências na história e dão aos filmes um passo pedestre ou quase-comatoso. Excesso de efeitos especiais estragam o ramalhete a meu ver. Personagens demasiado unidimensionais, até mesmo para um filme de fantasia. Milhões e milhões e milhões de dólares de lucro. Afinal, o que percebo eu destas coisas? Só sei do que gosto e do que não gosto. E uma trilogia unidimensional e sobre-produzida já está fora da minha liga...

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