25/01/2006

Twin Peaks

Laura Palmer. Não se vê muito dela durante a série, só meio-minuto em flashback. Mas a história gira toda em torno dela.

Por fim, last but not least nos posts dedicados a Lynch, a série que definiu a passagem da década de 80 para a década de 90:

Twin Peaks.

Poof, o que dizer sobre esta série? Vamos começar pelo início: Aquele genérico inesquecível: a beleza dos “quadros com movimento” que a camera capta: o moínho de madeira a funcionar (curiosamente fechou um mês depois de serem filmadas as cenas de stock – foi por uma unha negra), as paisagens bucólicas e serenas do interior do estado americano de Washington, e aquela música impossível de esquecer, que até ao dia de hoje me causa calafrios*

Sherilynn Fenn como Audrey Horne. Saiu de Twin Peaks para fazer aquela gigantesca caca que era o Boxing Helena.

A premissa da série era simples: uma adolescente local, Laura Palmer, é encontrada morta na margem do rio local, embrulhada em plástico. Um agente do FBI, Dale Cooper (mais uma vez o ubíquo MacLachlan) é destacado para acompanhar o caso. À medida que as pistas do assassinato vão sendo desvendadas é-nos oferecido um olhar mais profundo sobre a cidade de Twin Peaks, com todas as suas peculiaridades e personagens estranhos, incluindo várias viagens ao sobrenatural (um tal de Chris Carter, criador dos X-Files, admitiu roubar muita inspiração a Twin Peaks):

- The Log Lady (Catherine Coulson), que transporta sempre um ramo que se julga conter a alma do seu marido morto

- Nadine Hurley (Wendy Robie), que perdeu um olho. Maníaca por cortinados e com força sobre-humana

- Dr. Jacoby (Russel Tamblyn), o psiquiatra local que parece que mora no hospício mas é daqueles que dormem nos quartos almofadados.

- Leland Palmer, o pai de Laura, que passa de uma criatura que chorava a todos os minutos na primeira série (e dançava a toda a hora também, Fred Astaire rói-te de inveja). Na segunda série sofre uma transformação de dr. Jekyll para Mr. Jack-ass.

E a miríade de personagens sobrenaturais do Black Lodge:

- The Man from Another Place (Michael Anderson), um anão que anda e fala ao contrário (mas estranhamente perceptível)

- BOB, o espirito assassino. Um caçador que capta medo e horror para se alimentar a si e aos restantes habitantes. Usava o corpo de Leland para cometer os actos. Tinha o estranho hábito de gritar:

Through the darkness of future’s past

The magician longs to see

One chants out between two worlds

Fire, walk with me

- Mike, o homem com um só braço. Esquizofrénico na vida real, tomava uma personalidade diferente no lodge.

As influências de Twin Peaks são visíveis em séries de hoje em dia, como Desperate Housewifes e Lost (a história contínua com um mistério por resolver e ao qual vão sendo acrescentados detalhes e desenvolvimentos até ao clímax).

Laura Palmer embrulhada em plástico. É tramado...

Nem tudo é perfeito, contudo. Embora a primeira série fosse fenomenal, a segunda série sofreu com o desligar progressivo de Lynch, demasiado ocupado com as filmagens de Wild at Heart, e com alguma falta de controlo de qualidade nos últimos episódios. Pelamordedeus!!! A Jocelyn cai morta sem razão nenhuma e transforma-se numa maçaneta da gaveta???? LYNCH, onde estavas tu? Tem que se admitir que a qualidade da história decaiu depois da revelação do assassino de Laura Palmer (para quem não percebeu pelas linhas acima, foi o pai dela), e tudo piorou no fim da segunda série quando a estação responsável, ABC, pediu para a série acabar num cliffhanger (final aberto) com vista à renovação para uma eventual terceira série. Estranhamente, a estação retraiu-se, a terceira série nunca aconteceu e Twin Peaks nunca teve o coda que merecia. Final inglório para uma série que tanto mexeu com o público na altura.

Para acabar, o genérico final: um still shot de Laura Palmer, enquanto passava uma melodia desolada de piano sob uma base de cordas sintéticas. Mais um tema excelente de Badalamenti (tal como o genérico de abertura).

E pronto, agora por uns tempos não há mais Lynch. Talvez quando sair o seu novo filme, INLAND EMPIRE (sim, com letras maiúsculas). Até lá, veremos o que sai.

*tive que comprar o CD com a banda sonora. Teve que ser.

2 comments:

Anonymous said...

Confesso que não me lembrava nada da série, só msm da música. Tens a série em DVD? ;)

Inês

headache said...

Tenho pois. É a coisa mais gloriosa.