20/01/2006

Não podia deixar passar, como é claro...

...o aniversário, hoje, de David Lynch. O grande mestre do cinema surreal norte-americano completa hoje sessenta aninhos de pura esquisitice.

O que mais salta à vista é o seu desejo de nunca baixar os braços. Quando se viu praticamente proscrito de Hollywood após o filme de 1990 (Wild at Heart), continuou a fazer o que bem queria.


Laura Dern e Nicolas Cage em Wild at Heart

Toda a gente queria a continuação de Twin Peaks, ele dá a volta e faz uma prequela sobre os últimos sete dias de Laura Palmer - estou a falar de Fire Walk With Me, o filme de 1992 - um filme verdadeiramente indigesto e difícil de entender.


Sheryl Lee, como Laura Palmer

Verdadeiramente proscrito após FWWM, que já teve que ser financiado por um consórcio francês - sim, porque em Hollywood já ninguém queria tocar em david Lynch nem sequer com um pau, vem a lenta travessia do deserto, culminada com um fraco (para os seus standards) Lost Highway. A banda sonora, a cargo do seu colaborador de sempre Angelo Badalamenti e de Trent Reznor dos NIN, por sua vez, mostrou um realizador destemido e acabou, à sua maneira, por atirar para a ribalta uns até então obscuros Rammstein.

Robert Blake como Mistery Man em Lost Highway, antes de decidir dar um tiro na mulher e ser absolvido em tribunal de uma forma que deixou O.J. Simpson carregado de inveja: a sua defesa foi bem mais barata.

Rapidamente se levantou e lança em 1999 o verdadeiramente sublime The Straight Story, baseado numa história verídica. Foi a última actuação de Richard Farnsworth antes da sua morte, e que actuação! A sua derrota nos Óscares deveu-se simplesmente ao facto de ser um filme feito fora do circuito dos grandes estúdios - aliás, o financiamento dos filmes de Lynch, desde o FWWM, é francês; alguma coisa havia de sair de bom dessa nação. Lynch, com este filme, demonstra inequivocamente o seu amor pela américa rural, e a sua crença na bondade das pessoas. Pelamordedeus, não podem morrer sem ver este filme! Absolutamente proíbido perder. Nem que seja pelos três minutos do Richard farnsworth no bar.

O brilhante Richard Farnsworth montado no seu corta-relvas. Já não se fazem actores assim.

O último filme a ver a luz do dia foi já no longíquo ano de 2001, e foi mais uma verdadeira obra-prima: Mulholland Drive.

Naomi Watts e Laura Elena Herring em Mulholland Drive. LEH é provavelmente o maior tesão cinematográfico desde os tempos de Sophia Loren ou Brigitte Bardot.

O brilhantismo das performances neste filme - principalmente de Naomi Watts - foi mais uma vez ignorado por Hollywood. É fodido... provavelmente o melhor filme de Lynch pós-1990.


Como não vos quero maçar muito, fica para a próxima vez a carreira de Lynch pré-1990. Provavelmente com todo um post dedicado ao Twin Peaks.

P.S.-Este blog não vai ser só sobre David Lynch, claro...

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