Sesimbra vista do alto. Cabrão do frio. É giro ver os companheiros de viagem aos gritos quando de repente entramos em contramão para um descampado para ir poder tirar fotografias como esta. Desperto no sábado pelas 11h da manhã (cedíssimo, para mim: tardíssimo, para o objectivo em causa) e descolo-me da cama até à banheira, percurso curto mas draconiano por causa do frio. Ainda pensei “eles que se f**am, tá demasiado frio para tomar banho, um pouquinho de catinga nunca fez mal a ninguém”. Contudo, cheio de pena dos meus convivas nessa tarde, lá pulo para dentro da banheira a tempo de ver a genitália a retrair-se com o frio.
Retemperado pelo vigoroso banho e completamente vestido, arranco para a margem sul, onde toda a gente decidiu armar-se ao pingarelho na ponte e se andava a velocidades microscópicas... sai-me cá com cada um na rifa... Voltas e mais voltas, lá desemboco na gloriosa Miratejo, com a sua fauna e flora muito particulares. Não é a capital nacional da basófia, mas já esteve mais longe. Nunca vi tanto Saxo Cup e Punto GT na vida, a juntar aos já habituais Peugeot 206 (uma verdadeira praga esse carro) e outros carros mais idosos. Yo.
Após pegar uma gaja à porta de casa (“corre que o meu pai está ali a meter cartuchos na caçadeira”), vira-se com a bomba “ah e tal, vamos à estação de Corroios comprar bolinhos”. BOLINHOS? Homem que é homem não come coisas acabadas em “inho”, cum c***lho. Essas paneleirices de “bifinhos aux chapignons” e “lombinho de porco” e “saladinha de seja-lá-o-que-for” não entram cá no sistema. Aqui em casa é bife, lombo, e saladas são verdadeiro anátema. Fim. Lá vamos para a bela da estação – e que belo pedaço de arquitectura que era – onde... não há bolinhos. Mas também não havia bolos de homem, como a bola de berlim ou bolo de café ou bolo de rum, só havia daquelas coisas cheias de chantilly. Aviados com bolo de bolacha, lá nos metemos a caminho outra vez.
Descobri que o português é um povo quase suicida no que toca a atravessar as estradas. Já ninguém olha??? “Ah, e tal, aquele carro vem lá ao fundo, deixa-me atravessar aqui a EN10 com a maior pachorra do mundo”. Saco... era espetá-los num pau... com fogo por baixo...
Entretanto, como é óbvio, durante toda a viagem, tinha que ir a aturar a gaja a falar sobre cetáceos carnívoros aparentados com os roazes, e gente marroquina “com abertura fácil” e mais não sei quê. Claro que desligava sempre de vez em quando e ia ouvindo umas musiquinhas na minha cabeça, sempre abafava o ruído de fundo.
O cozinheiro de serviço, em grandes atavios.
Chegados à Cotovia, lá nos instalamos em casa dos nossos anfitriões e do seu gato super-assustadiço que não fez outra coisa que não fosse esconder-se embaixo da cama. Soltando umas larachas e tirando umas fotografias enquanto o macho-alfa preparava o almoço para a matilha, a fome ia crescendo... quase duas horas, sem comer, e eu ainda em jejum... este gajo... tínhamos chegado havia uns 45 minutos e o meu estômago só roncava... e ainda junta uns camarões ao pote... e uns legumes... e bife... e massa... e DESPACHA-TE! Não vês que desfaleço?
Chega a hora da grande mistura, e como é óbvio, a comida era demasiada para o wok... e para o tacho... agitar foi engraçado. Claro que quem se lixou fui eu, porque a primeira malga que saiu tinha 90% de massa e 10% do resto (e cheio de camarão, ainda por cima). Temperado com glutamato de sódio, que sinceramente sabe a nojo, se comido sem mais nada. Estão a ver o cheiro a esgoto? Agora imaginem o sabor a esgoto. Estão perto.
Após comermos (aliás, engolirmos o grogue com cara alegre para não fazer a desfeita ao macho-alfa) o excelente repasto que nos foi servido, segue-se o gelado, ao que a outra responde com exclamações quase-orgásmicas. É só gelado, melher!
Gato fugidio. Não iria perder pela demora...
Come-se o gelado, tenta-se apanhar mais uma vez o cabrão do gato (até tremia o bicho). Goradas as tentativas – não esperaria pela demora – toca a encasacarmo-nos para visitar a vila de Sesimbra, não sem antes ouvir uma multitude de protestos em alto e bom som sobre a “merda do frio!” e “estou toda enchouriçada!”. Ou coisas parecidas.
Após uma curta viagem onde pude demonstrar todo o meu talento a evitar buracos na estrada, estacionamos em Sesimbra no sítio do costume, que fica no topo e longe de toda a acção, mas nem pensar que levo o meu carrinho, a minha coisinha mais preciosa, para o meio daquela vila onde definitivamente ninguém sabe conduzir – depois de ter visto o que vi lá uma vez...
O belo mar de Sesimbra. Afinal ainda há coisas bonitas para se ver neste país.
Descer, andar, gelo total. Ouve-se ao longe uma batucada desconexa. Esta vila é muito à frente: falta mais de um mês para o Carnaval e já andam malucos... não têm mais nada para fazer na vida? Tipo, trabalhar? Estudar? Aproveitar o dia em casa para estar com a família? Mas não, vamos para beira-mar batucar. Nunca hei-de perceber estas coisas...
Chegando à zona dos batuques vê-se que eram quase todas gajas, exceptuando dois gajos que ou eram ultra-tarados sexuais ou meio-frutinhas. Aposto mais na última hipótese. Após mais umas fotos, mais umas voltas, e mais uns protestos em voz alta, começa a sessão orgásmica da outra: os cães. Foi uma excitação tal com os cães que aquilo já parecia chantilly a escorrer-lhe pelas pernas. Entre outros viram-se:
-Um boxer
-Um labrador preto
Rottweiler bébé (ou quase). O que a outra se passou quando o viu.
-Um Rottweiler
-Um labrador chocolate, de pelagem impura ou arraçado, mas era definitivamente um labrador.
-Um terrier
-Um labrador dourado ainda bébé (o que ela se passou, com urros).
Infelizmente para ela, se os cães estavam com dono (homem), esse dono também estava com dono. “É tudo comprometido! Sacanas!”, ouviu-se dizer.
Paragem na loja de farturas, onde toda a gente menos a gaja se abastece de farturas e churros. Mas ainda assim não se coibiu de fazer ouvir-se por essa Sesimbra fora gritando “Churros!” em plena voz... abençoados sejam esses pulmões, menina!
Meninos a beijarem-se no castelo. Ao que isto chegou...
De volta ao carro, com muita escalada pelo caminho porque ficou lá nas alturas, “ah e tal, porque é que não vamos ao castelo?”. Bora. Com duas paragens pelo caminho para tirar fotos, que fizeram com que o macho-alfa gritasse de pavor e “Pedro, o que é que estás a fazer??? Olha para a estrada!!”... Prá próxima não vem ninguém, quatro pessoas no carro e ele engonhava a fazer as subidas!! Bando de cús-gordos, todos!
Yours<>
Castelinho, muito giro, com mais subidas... e o carro a esforçar-se... coitadinho, vou ter que o recompensar e pôr gasolina 98 em vez de 95 para a próxima... mais uma catrefada de fotos, mais protestos em alto e bom som. Sentadinhos na esplanada, toca a bebericar um chocolatinho quente (e bem quente, f**a-se). Cortar na casaca, coiso e tal. O costume. Arrefece. Mais protestos. De volta à Cotovia.
Á saída do castelo.
De volta à casa, a anfitriã lá consegue apanhar o bastardo do gato, que só não se borra todo de medo porque provavelmente já tinha esvaziado o tripedo antes. Mais conversa, toca a cegar toda a gente com o mega-flash que até assobiava. Coisinha mai linda do seu dono... Entretanto, o gato dormia aninhado dentro de uma blusa.
De volta a casa, o macho-alfa solta um bocejo de tal maneira que até se veem as cuecas.
Adeus beijinhos, lá me mentalizo para a viagem de volta para casa tendo que ouvir a outra pelo caminho... tão longa que era, a N-378...
EPÍLOGO: Recomendo uma visita a Sesimbra, principalmente na companhia de bons amigos. De preferência sem ameaça de chuva e sem batucada de carnaval e sem frio. E com mais carros, porque senão eles morrem naquelas subidas cheios de cús-gordos.