01/04/2007

INLAND EMPIRE e a crítica do Expresso

No caderno Actual do Expresso de ontem a capa prometia: "Um guia para tentar perceber (ou talvez não) o realizador", sobre uma capa integralmente ocupada com a handprint de David Lynch no cimento do passeio.

Puro engano.

4 páginas 4 de entrevista muito superficialóide, onde se gasta muito tempo a analisar a técnica envolvida com a utilização de Digital Vídeo (DV). O resto são banalidades. Segue-se uma mesa redonda com as mentes brilhantes que são os críticos de cinema do jornal a tentarem dissecar o significado da coisa - exercício fútil, os filmes de Lynch não são filmes no sentido estrito do termo, e a essa conclusão lá conseguem chegar. Da mesma maneira que não se explica um quadro surrealista ou uma sinfonia clássica, os filmes de Lynch são assim: inexplicáveis. São quadros feitos em vídeo. Escusado será dizer que no processo revelam um plot twist e apeteceu-me imediatamente mandar um biqueiro no meio dos olhos de toda esta gente.

A mania de complicar e arranjar explicações para tudo chega já no final da mesa redonda, onde gastam um porradão de linhas a analisar o nome do filme blah blah blah pardais ao ninho puta que os pariu a todos broncos de merda com a mania só porque enchem o peito de ar para dizer que veêm todo o cinema independente blah blah blah e a explicação é muito simples, dada pelo próprio Lynch na entrevista antes: ele gosta do nome, só isso, e surgiu quando a Laura Dern (protagonista) lhe disse que o marido dela tinha nascido lá. Às vezes as melhores respostas são as mais simples.

Conclusão brilhante da raça: filme frágil, alguns não gostaram, nenhum deles percebeu o filme, não seria o filme de Lynch que levariam para uma ilha deserta. Apesar disto tudo, dois deles dão-lhe pontuação máxima, só porque o filme é não-comercial. Olha que caralho, crítica desta também eu sei fazer e aposto que cobro apenas metade do que estes bananas levam. A entrevista na Visão desta semana está 100 vezes acima do que foi vomitado por esta gente.

1 comment:

Restelo said...

Navalha de Ockham (William de Ockham): "se há várias explicações igualmente válidas para um facto, então devemos escolher a mais simples".